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A história das Tropas Pára-quedistas Portuguesas
“Há que conservar as memórias passadas contra a tirania do tempo e contra o esquecimento dos homens”1 Padre António Vieira (1)
Francis J. Gavin, professor da Johns Hopkins University, no ensaio "What if we are wrong?", na procura da definição de História, cita Marc Block que sublinhara que a mesma não é uma oficina de relojoaria, nem um gabinete de engenharia, mas sim um esforço para melhor compreender algo em constante movimento. Muito recentemente, Miguel Monjardino, periodista e professor universitário, citou também Gavin, que definira História como um discurso em mutação, tecendo depois considerações complementares ao tema. Nas mesmas salientou que, devido a esse movimento, a perspetiva histórica depende muito da geografia e do momento em que a avaliação dos factos é feita, face à contínua evolução do pensamento universal. Por outro lado, se não forem sendo tomados apontamentos sobre os acontecimentos passados, a memória sobre eles resultará difusa e enviesada, podendo mesmo falseá-los. Pelos efeitos que produzem, os verdadeiros motores da História são os detentores do poder político, mas também económico, diplomático, de opinião, etc., de cada Estado ou coligação. Este será tanto mais efetivo quanto mais vincadas forem as chamadas forças profundas, há muito relevadas pelos professores franceses Pierre Renouvin e JeanBaptiste Duroselle (2) . Essas forças são materializadas pela geografia, no seu sentido mais amplo, pelo passado das nações ou suas associações, pelo carácter nacional (consciência coletiva do valor relativo de si mesma), pela língua, pelas religiões professadas, etc. A Instituição Militar é integrada por homens e mulheres que, pelo papel social que lhes está consignado ou, por vezes, por eles e elas assumido, são também motores da História e outras vezes, sobretudo, objeto da mesma. Desta forma, resolvemos publicar esta Cronologia das Tropas Paraquedistas em Portugal, memória sintética dos acontecimentos ocorridos entre 1956 e 2021, que considerámos relevantes no contexto nacional, de modo que não se venha a tornar difusa e até enviesada uma futura avaliação dos mesmos. Procurámos, na sua feitura, afastar a sempre presente subjetividade e indicar a bibliografia consultada, não esquecendo que a História é algo em movimento, quer pela contínua evolução do pensamento humano, quer pela descoberta de novos factos. A Cronologia é apresentada inicialmente por factos que antecederam a criação das Tropas Paraquedistas em Portugal, depois os relativos à criação destas Tropas e o seu desenvolvimento (1955/1975), época em que foram formadas, instruídas e treinadas com o maior rigor e destinadas a combater numa guerra de contrassubversão; seguidamente, face à alteração estratégica decorrente do fim da guerra em África e no período da guerra fria, adequadas afincadamente a esse novo ambiente (1975/2006) e, desde essa data mas já integrados no Exército, capacitadas e empenhadas em operações de apoio à paz e operações de repatriamento de nacionais não combatentes. Em todas essas fases, são bem visíveis os esforços de manutenção do melhor conhecimento e do saber fazer das Tropas Paraquedistas para se equivalerem, no estado da arte, às melhores existentes noutras geografias. Por último, dedicamos esta Cronologia a todos que, como eu, se sentem honrados por terem servido Portugal nas Tropas Paraquedistas, a quem dedicaram todo o seu esforço e saber, honrando o lema da Casa Mãe” Que Nunca Por Vencidos Se Conheçam”.
Oeiras, 1 de dezembro de 2021
Carlos Manuel Chaves Gonçalves MGen (Ref)
1 Vieira, Pe António, Sermão de Nossa Senhora de Penha de França, Lisboa, 1652. Citações e Pensamentos. Lisboa: Ed. Casa das Letras, 2010, p. 69.
2 Renouvin,Pierre, Duroselle, Jean-Baptiste. Introduction a L’Histoire des Relations Internationales.
Paris, Armand Colin, 1970.
(1981) Na BOTP 2, após a finalização das obras para o efeito necessárias, o Comando foi instalado no velho edifício escolar da extinta BA7, onde já desde o ano anterior estava sediado o Estado Maior, libertando para outra
finalidade as anteriores instalações junto à Ria de Aveiro.
(maio) Aproveitando o transporte num C-130 português, que se deslocava para a Bélgica em missão de Squadron Exchange com a Esquadra homóloga deste país, dois oficiais da BETP (Capitães Lima Pinto e Chaves Gonçalves), visitaram a Escola de Paraquedistas em Schaffen, com a missão de realizarem troca de experiências nas áreas dos lançamentos de material e pessoal. Na ocasião o Coronel Kesteloot, Comandante dos paraquedistas belgas no então designado Régiment ParaCommando, solicitou-lhes o agendamento de uma reunião informal com o Coronel Almendra, seu homólogo em Tancos. Pretendeu acordar o que viria depois a ser uma realidade oficial, as Cooperações entre Páras de Portugal e Bélgica, as quais desde 1982 se vêm anualmente realizando. Nestas, que visam o treino cruzado, os Páras portugueses vêm obtendo pro bono valiosas horas de voo para saltos em Portugal, a partir dos aviões belgas que aqui permanecem durante a Cooperação, bem como transporte de ida e regresso de Portugal para a Bélgica nos aviões necessários para os deslocamentos dos Páras belgas, sem custos e em iguais quantitativos, para não haver necessidade de pagamentos de alimentação e estadia.
Quanto aos nossos parceiros, a vantagem tem sido poderem fazer lançamentos de treino em paraquedas, quando a meteorologia no seu país não o permite e aqui, contrariamente, haver espaço aéreo disponível e reservado para lançamentos a diversas altitudes, além de também realizarem o sempre útil treino cruzado com o nosso armamento e outras disponibilidades existentes. Esta metodologia viria depois a ser também usada em Cooperações com forças paraquedistas alemãs e, em modelos algo diferentes, com Páras ingleses (dos SAS, no Exercício Auriole) e americanos (das Special Forces, no Exercício Flint-Lock/Águia).
(setembro) Renasceu, modernizada no formato, a Revista BOINA VERDE, órgão de informação do CTP (Corpo de Tropas Paraquedistas).
(1981) O Tenente Cameira Martins frequentou com sucesso em França - ETAP/Pau, o Stage 664 Instructeur Chute- Libre, obtendo o Certificat d’Aptitude Technique au Saut Opérationnel à Ouverture Commandée Retardée à Grand Hauteur.
(setembro) As Tropas Paraquedistas iniciaram a participação nos Exercícios da série Display Determination, em Itália, de periodicidade anual e no âmbito NATO, com uma Companhia, um Destacamento de Precursores Aeroterrestres, uma equipa de Largadores e outra de Dobradores. Neste Exercício atuaram juntamente com forças paraquedistas italianas da Brigata Folgore e da Companhia Alpina de Paraquedistas (COMALPIPARA) e, ainda, paraquedistas americanos de uma sua Unidade estacionada na Alemanha.
(1982) Começou a funcionar o recém-construído complexo das Messes e Cozinha da BOTP 1, em proveito de seu pessoal bem como dos militares e civis do Comando do CTP e COFA. Para além da adaptação e melhoramento das instalações existentes para alojamento do pessoal da Companhia de Comunicações, realizada no final do ano anterior, houve igual procedimento em relação à CACar, bem como às instalações do pessoal do BP 11. Foi ainda objeto de aprimoramento, de relevo, o parque para viaturas e o complexo oficinal para viaturas e material TSF e TPF, de HF e microprocessadores.
(1982) A BOPT2 recebeu a missão de incorporar e ministrar a Escola de Recrutas (ER) a um contingente de voluntários, obrigando a algumas adaptações para a receção e instrução dos mesmos. Neste sentido foi construída uma pista de aparelhos, de forma a possibilitar, nas últimas semanas da ER e concomitantemente com esta, a adaptação ao subsequente curso de paraquedismo, o qual seria ministrado na BETP.
(1982) Foi concluída a construção e entregue o novo Bloco Oficinal da BOTP 2, com as valências oficinais de carpintaria, serralharia, estofador, pintura e obras de construção civil.
(1982) O Major Terras Marques marchou para Paris e Metz/França, onde frequentou o Curso Superior de Logística, destinado a oficiais superiores.
(01Fev a 12Mar) Face ao objetivo, sempre perseguido, de melhor adequação das Tropas Paraquedistas ao ambiente estratégico subsequente ao fim da guerra em África, deslocaram-se à RFA o Tenente Joaquim Cuba (BETP), 1º Sargento Manuel Prazeres (BOTP1) e 2º Sargento Costa Pereira (BETP), a fim de frequentarem o Curso de Patrulhas de Reconhecimento de Longo Raio de Ação (LRRP). Este foi efetuado na International Long Range Reconnaissance Patrol School, em Weingarten. O curso foi dividido em três fases: International Initial Patrol Course, destinado a ensinar e fazer praticar os procedimentos básicos duma operação de LRRP; International Continuation Patrol Course, cuja finalidade foi ensinar e praticar técnicas e procedimentos avançados associados a operações mais sofisticadas; e International Warsaw Pact Specialist Recognition Course, que versou as técnicas de identificação de equipamentos, táticas e movimentos das forças do Pacto de Varsóvia, com especial incidência nas áreas da retaguarda destas. Com base neste curso, foi elaborado o “Manual de Reconhecimento de Viaturas do Pacto de Varsóvia”, para instrução dos cursos de MILAN ministrados na CACar (BOTP1) e aos
CFS (BETP).
(1982) Foi inaugurado o novo Clube de Praças da BOTP 2, de modelo idêntico ao da BETP, e no mesmo edifício implantada a Biblioteca da Unidade.
(1982) Sob o comando do Capitão Melo de Carvalho foi levantada a Companhia Anticarro (CACar), orgânica da Brigada de Paraquedistas Ligeira, sediada primeiro na BOTP 1 e, posteriormente na BOTP 2, equipada com 12 armas anticarro Milan II, além de outro armamento. Foi ainda montada uma sala de tiro de Milan, usando dois postos de tiro independentes e ligados a um simulador de tiro, para o efeito importado de França.
(1983) A BOTP 2 não dispunha ainda de abastecimento de água potável e o débito do furo existente era limitado já que, a partir de determinado nível, a água passava a ser salobra. Entretanto, ficou concluída a reparação da torre e do depósito para abastecimento de água à Unidade, bem como a construção da rede de distribuição da mesma e, ainda, a perfuração de um furo para exploração de água, a grande profundidade. Quando a povoação de S. Jacinto ficou dotada de abastecimento público, a ligação à rede da Unidade foi logo executada, iniciando-se o abastecimento do complexo de cozinha e refeitórios. Foi definida e implantada na nova localização a Secção de Combustíveis, destinados a uso corrente terrestre e foi igualmente remodelada e implantada para meios aéreos. Foi construída e a Estação de serviço, anexa ao “hangar dos Hidroaviões”, sendo este transformado em parque de viaturas.
(1983) Terminou a construção do Centro de Alimentação da BOTP 2, com cozinha centralizada, quatro refeitórios, central de vapor e, também, da lavandaria.
(1983) O Capitão Regadas Teixeira frequentou o Curso de Direito Humanitário nos Conflitos Armados no International Institut of Humanitarian Law, em S. Remo / Itália.
(1983) Foi a primeira de muitas vezes em que o CTP participou no anual Exercício Volant Rodeo/Airlift Rodeo, na Base Aérea de Pope/Estados Unidos da América, o qual é um exercício de competição pura e no âmbito do transporte aéreo tático (consiste em atingir por via aérea uma área selecionada, onde se pretende colocar pessoal e ou material, por aterragem no solo ou lançamento em paraquedas, e ou a recolha dos mesmos por aterragem de assalto). Participaram nele 35 aeronaves de grandes dimensões e baixa velocidade, como são o caso do C-130 Hércules e do C-160 Transall, da USAF, Air National Guard, e convidados representantes de Forças Aéreas estrangeiras, num total de cerca de 1.200 militares. A participação do CTP neste Exercício consistiu em realizar provas, pontuadas pela média do somatório dos resultados individuais da equipa de Precursores Aeroterrestres (o nosso CCT - Combat Control Team foi constituído pelos Capitão Krug, 2º Sargento Fernando Pereira, 1º Cabo José Galguinho e Soldado Joaquim Claudino), de lançamentos em paraquedas, orientação no terreno, balizagem de zonas de aterragem ou de zonas para lançamentos de cargas, controlo de meios aéreos durante as operações de aterragem e estacionamento e, sempre que a situação o exigir, conduzir a partir do solo lançamentos em paraquedas.
(1983) Estes prestaram ainda duras provas físicas de cariz militar, começando por uma corrida de 10km, transportando cada militar uma carga de 20kg na mochila, e uma outra prova de corrida na pista de obstáculos da 82nd Airborne Division/Fort Bragg, a famosa Recondo Course. Também participaram, como especialistas habilitados com os cursos de Abastecimento Aéreo e de Inspeção de Cargas, o Tenente Victor Santos e o 1º Sargento Victor Almeida no trabalho de preparação de cargas para lançamento, pelo nosso C-130, e foram também avaliados na inspeção de duas cargas para lançamento. A participação nacional em 1983 terminou com honrosas classificações, como viria a acontecer na nossa participação em anos posteriores, sendo de sublinhar que na de 1986, em que na prova rainha - 10km de corrida transportando na mochila 20kg - o 1º Sargento Luís Rodrigues, no início da longa reta final para a meta, apareceu a correr em primeiro lugar, a par de um americano com quase o dobro da sua estatura. Viria a terminar num excelente segundo lugar, mas ganhando a prova por equipas (27 equipas concorrentes), pois os restantes elementos do nosso CCT classificaram-se em 7º e em 10º (1º Sargento Farinha Rodrigues e 1º Sargento Francisco Figueiredo, respetivamente). Tratando-se de uma prova por equipas, alcançaram a melhor classificação, pois mais nenhuma equipa classificou 3 militares nos dez primeiros lugares. Contribuíram assim e enormemente para o 1º lugar geral, em que a representação nacional se classificou..
(1983) Foi inaugurada na BOTP 2 a Área de Instrução de Luta Urbana, adaptação simples de um velho casario que servira nas atividades da agropecuária da Unidade. Por esse local e nessa instrução passaram a rodar todas as CParas, de forma desfasada. Assim, com a prática em ambiente próximo do real, os Paras aprimoraram o seu desempenho, após a instrução teórica anteriormente adquirida nas suas Unidades-Base.
(1983) Os antigos refeitórios da BA 7, agora instalações devolutas no aquartelamento da BOTP 2, foram objeto de estudo e posterior adaptação a gabinete do Comando, Alojamento de Praças e Arrecadações da Companhia de Morteiros Pesados. Ficou pronta a habitar uma nova Camarata destinada a Praças da CParas 212.
(1983) A BOTP 2 recebeu a missão de planear e dirigir um exercício que empenhasse as subunidades da Brigada Ligeira de Paraquedistas. Foi então realizado o Exercício “Marofa”, o qual se desenrolou na zona de Figueira de Castelo Rodrigo, tendo sido iniciado com o lançamento do pessoal na zona de Mata de Lobos.
(1983) O Destacamento da BOTP 2, situado no Forte da Barra, tinha por missão garantir as necessidades diárias em transportes auto e apoio às travessias por meios marítimos da Ria de Aveiro e de alojamento, quando as condições meteorológicas impedissem a utilização das lanchas; no Forte foram terminadas algumas obras anteriormente iniciadas e garantida a ligação radio e micro-ondas, de forma permanente com a Unidade, que até aí se limitava à rede telefónica civil. Perante as obras iniciadas na margem esquerda da Ria, para ampliação do porto de Aveiro, que implicaram a demolição de todos os edifícios, houve que se efetuar a transferência do Destacamento para a atual localização. Nas negociações efetuadas entre o Comando da Unidade e a Junta Autónoma Porto de Aveiro foi possível melhorar as condições gerais do Destacamento, nomeadamente a construção das habitações agora existentes, as quais substituíram as anteriores (alojamento de praças da Armada que manobravam as embarcações militares, bem como as que serviram de alojamento das famílias do Cmdt, CEM e Cmdt do BP21.
(1984) Foi inaugurado em 27Jan o novo e funcional edifício do Comando e Estado-Maior do CTP, nos terrenos da FAP em Monsanto, tendo para aqui sido transferidos os meios humanos e materiais do Comando e Estado Maior, até então sediados na Rua Andrade Corvo/Lisboa.
(1984) O Capitão Bernardes participou no Curso de Técnicas de Estado-Maior para Operações Defensivas, na Escola de Infantaria (Hammelburg) da RFA.
(1984) O Cap Cameira Martins realizou o Academic Instructor Course, na Air University / Maxwell Air Force Base /USA
(1984) Os arruamentos da BOTP 2 foram definidos, repavimentados e os arranjos exteriores do complexo da cozinha e refeitórios concluídos. Foram definidas as zonas de implantação do pavilhão gimnodesportivo e do alojamento de sargentos e, no ano seguinte, foi montada uma nova rede telefónica automática.
(07Fev) O Comandante do CTP, num contexto de autonomia administrativa e financeira, de que usufruía no seio da FAP, e sendo conhecedor das elevadas capacidades e do saber-fazer existente na estrutura da subunidade de manutenção de equipamento aéreo da BETP e, ainda, face aos elevados custos de aquisição dos equipamentos aeroterrestres, até então adquiridos em França, determinou ao seu Estado Maior a avaliação da possibilidade e custos de fabricação dos mesmos naquela subunidade. No início dos anos 80 o Centro de Equipamento Aéreo (CEA) já dispunha de uma elevada capacidade técnica. A manutenção aos paraquedas abrangia, eficientemente, todos os escalões, sendo de sublinhar que o Chefe da Manutenção (Sargento-chefe Hélder) havia frequentado em França formação de nível CT1 e CT2, com reconhecido êxito pelos próprios Formadores. Em 1983, o CTP decidiu enviar o Comandante do CEA (Capitão Lancha) e o Chefe da Manutenção em visitas de estudo a fábricas de paraquedas a Espanha (Barcelona), a França (Tours) e à Coreia do Sul (Seul), com a finalidade de obterem elementos de apoio à decisão de iniciar a confeção, bem como o tipo de paraquedas. Tendo sido tomada a decisão, ainda nesse ano foram adquiridos os vários tipos de máquinas de costura indispensáveis e todo o restante material necessário.
Simultaneamente foi feito o recrutamento de cinco funcionárias civis. Assim, em 07Fev84 a CEA iniciou o fabrico de paraquedas. Contava com uma força de trabalho constituída por 5 costureiras civis e 18 militares, todos formados na Secção de Manutenção. Às costureiras tinha sido destinada a confeção das calotes dos paraquedas e aos militares a confeção dos arneses, invólucros e também a mesa de corte de cordões, do nylon, das tiras e das lonas. O primeiro paraquedas, aqui fabricado, tinha uma calote semelhante à do paraquedas EFA (França) e o arnês e o invólucro aos do T10 (USA). O material foi adquirido na Coreia do Sul e o paraquedas foi batizado de CTP A1. Nos anos 84, 85 e 86 fabricaram-se 400 paraquedas CTP A1. Em 1985 foi atribuído pelo Instituto da Soldadura e da Qualidade, ao CTP, o Código de Fabricante e as OGMA indigitadas como Entidade Responsável pelo Controlo de Qualidade.
Estava legalizada a Fábrica de Paraquedas do Corpo de Tropas Paraquedistas. No ano de 1987 passou a fabricar-se o modelo CTP A2. Alterado principalmente ao nível do invólucro e o material passou a ser adquirido na Aerazur, em França. De 1987 a 1993 foram fabricados 1.800 paraquedas CTP A2. Além da confeção dos paraquedas CTP A1 e CTP A2, a fábrica foi desenvolvendo outro tipo de equipamentos. Confecionou um tipo de paraquedas específico para os Largadores e, a pedido da FAP, fabricou os arneses RS1 e RS2 destinados aos Recuperadores/Salvadores a partir dos hélis. Fez a manutenção dos arneses utilizados pela FAP e procedeu à introdução de um acessório no sistema de abertura do paraquedas de emergência do avião Epsilon. A Fábrica de Paraquedas do CTP encerrou em 1993, com a transferência das Tropas Paraquedistas para o Exército.
(3Jan) O Estandarte Nacional do Corpo de Tropas Pára-quedistas, herdeiro das tradições e do património histórico dos extintos Regimento de Caçadores Paraquedistas e dos Batalhões de Caçadores Paraquedistas nº 12, 21, 31 e 32 (Decreto-Lei 17/78, de 19 de Janeiro), foi condecorado com a Ordem Militar da Torre e Espada do Valor Lealdade e Mérito, pela ação das tropas paraquedistas no ex-Ultramar Português.
(04Jan a 19Fev) O Tenente Castro Lousada frequentou o Military Freefall Parachutist Course, no US ARMY JFK Special Warfare Center, em Fort Bragg, Carolina do Norte, nos Estados Unidos da América. Este curso era
também designado por High Altitude Low Opening (HALO) ou Curso de Saltador Operacional de Grande Altitude (SOGA). Esta formação permitiu um primeiro contacto com os paraquedas MT1-XX (asa principal e asa reserva),
uma vez que os modelos em uso nas Tropas Paraquedistas portuguesas eram hemisféricos, bem como com as consolas coletivas e garrafas individuais de oxigénio. O curso incluía várias sessões em túnel de vento, à data efetuadas na Wright Petterson Air Force Base, Ohio, destinadas a encurtar o processo de aprendizagem, simulando em ambiente controlado as condições da queda-livre (4 sessões de 5 minutos porque o aluno português já era experiente em SAM). A metodologia de ensino incluía ainda a gravação em vídeo de alguns saltos, proporcionando a visualização imediata do desempenho individual após a aterragem. Relativamente ao paraquedas a adquirir pelo CTP para os SOGA, a escolha teria de ser feita entre o HAPPS da Pioneiros Inc e o MT1-XX, optando-se mais tarde pelo segundo.
No seguimento deste curso HALO, os SOGA do CTP passaram a transportar a mochila na retaguarda do corpo, por se entender ser mais confortável a bordo, quando os paraquedistas estavam ligados à consola de oxigénio, no processo de denitrogenação, e para facilitar as inspeções dos equipamentos. No ano seguinte, entre 05Ago e 19Out, o Tenente Santos Correia frequentou também com sucesso o mesmo curso, sendo reforçada a opinião (já relativamente consolidada na altura) do elevado interesse em introduzir o sistema MT1 XX, devido ao impulso que iria provocar na segurança e desempenho operacional. Foi ainda recolhida informação complementar, relativa a metodologias de instrução, bem como sobre técnicas de dobragem de paraquedas tipo asa. A aquisição do modelo MT1-XX, da Para Fite Inc, como equipamento de inserção no terreno a partir de meios aéreos, veio a ocorrer pouco tempo depois.
(1985) O Capitão Carlos Jerónimo e o Tenente Agostinho Costa marcharam para a República Federal Alemã onde, na Escola de Infantaria, em Hammelburg, realizaram um Estágio de Luta em Áreas Urbanizadas e Arborizadas, área de instrução que o comando do CTP pretendia desenvolver. Essa ação decorreu contemporaneamente com o Curso de Estado-Maior do Exército Alemão, com quem trocaram experiências durante alguns dias, acompanhando a análise e planeamento deste tipo de operações, nos escalões Batalhão e Brigada, e assistindo a demonstrações deste tipo de combate levadas a cabo por subunidades táticas.
Permaneceram no local por mais algum tempo, para assistir à formação destinada aos Batalhões do Exército da então RFA, que anualmente efetuavam ciclos de formação naquela escola, compreendendo um período de formação em combate em área edificadas na Ortskampfanlage Bonnland, uma povoação que serve de área de treino, na Escola atrás referida. A formação compreendia duas fases, respetivamente, uma de train the trainners, destinada a quadros e a seguinte para as tropas, onde as subunidades realizavam um conjunto de tarefas organizadas em estações de treino, para se familiarizarem com as especificidades deste tipo de combate. Terminava com um exercício que fazia apelo ao conjunto de competências.
(1985) Foi aprovado oficialmente o Guião do BP31 / BETP, desenhado pelo iluminista/heraldista Eduardo Esperança (no seu CV estão incluídos trabalhos realizados para o Vaticano), sob orientação do reconhecido especialista em heráldica, Dr. Artur Norton. A leitura heráldica do Guião do Batalhão remete-nos para a maior antiguidade relativa deste no seu levantamento (por isso contem o paraquedas de Leonardo d’Avinci, a primeira representação conhecida do mesmo) e o uso da figura do Grifo no seu Guião (pertença e símbolo distintivo no Estandarte Heráldico da BETP, sua Unidade-mãe, bem como das Unidades antecessoras desta). O mesmo artista fez ainda o estudo destinado aos Guiões do GOAT, BI e BAS, também subunidades da BETP.
(1985) Foi iniciada a participação no Exercício anual Shinderhannes. No final dos anos 60, alguns países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) decidiram avançar para um projeto de treino cooperativo com a realização de exercícios de Patrulhas de Longo Raio de Acão, vulgarmente designados por Long Range Reconnaissance Patrols (LRRP). A comunidade internacional de Forças Especiais passou a participar ativamente nesta tipologia de exercícios de que são exemplo os mais relevantes como o Schinderhannes na Alemanha, o Eugenie em França, o Pegasus na Bélgica, o Lowlands na Holanda, o Viking na Dinamarca e o Tristar no Reino Unido.
A BRIPARAS, como componente operacional do Corpo de Tropas Paraquedistas da Força Aérea Portuguesa, envolveu nesta atividade de treino operacional internacional, militares paraquedistas da Companhia de Precursores Aeroterrestres, Companhia de Anticarro, Companhia de Comunicações e no final dos anos 80, militares dos Destacamentos de Precursores da Companhia de Forças Especiais. As participações foram esporádicas e fundamentalmente com o estatuto de observador nos exercícios das séries Pegasus e Lowlands. Mas onde as participações atingiram níveis de proficiência excecionais e que mereceram sempre os mais rasgados elogios das delegações aliadas, foram nos exercícios da série Schinderhannes, na Alemanha. Em finais de 1984 surgiu o convite para a nossa primeira participação com o estatuto de observadores no exercício Schinderhannes 85. Recorda-se que estávamos em período de “Guerra Fria” e com a República Federal da Alemanha (RFA) separada, pelo famoso “Muro de Berlim”, da República Democrática Alemã (RDA) que integrava o Pacto de Varsóvia. Existiam três Corpos de Exército (CE) na RFA e cada um contemplava uma Companhia de LRRP, a 100 (Hannover) do I CE, a 200 (Weingarten) do II CE e a 300 (Fritzlar) do III CE. O exercício da primeira participação, em 1985, foi realizado em Fritzlar e serviu para avaliar os principais objetivos que integravam a execução de saltos táticos em paraquedas utilizando a aeronave C-160 Transal, técnicas de infiltração em território inimigo, reconhecimento de material do Pacto de Varsóvia, transporte tático em helicóptero CH-53 Sikorsky e UH-1 Bell, técnicas de observação diurnas e noturnas, comunicações HF, execução de reconhecimentos, assinalando e sabotando alvos inimigos, transposição de obstáculos naturais e técnicas de exfiltração com meios aéreos ou viaturas, recolha de depósitos de abastecimentos (Caches), utilização de Safe Houses e redes de fuga e evasão.
Os exercícios contemplavam uma infiltração com cerca de 8 a 10 dias em território inimigo garantindo que fossem comunicadas aos escalões superiores as mensagens resultantes das missões executadas. A proficiência na técnica individual e a utilização adequada de meios rádios HF com microprocessadores de vanguarda dificultavam a deteção das equipas através de meios de radiolocalização e evitavam a captura por parte de unidades militares das forças opositoras que incluíam a utilização de meios aéreos e cães de guerra. A participação das delegações portuguesas evoluiu rapidamente ao longo dos anos, com um investimento significativo em armamento e em equipamentos de comunicações (rádios Thompson e DT que permitiam comunicar com rapidez e segurança a longas distâncias). Por mérito próprio tornaram-se referência no Exercício, merecendo os mais rasgados elogios do Comandante do III CE alemão que, perante todas as delegações estrangeiras, enfatizou a forma simples e eficiente da estrutura da nossa delegação, em contraste às restantes, inscrevendo assim honrosamente os Boinas-Verdes de Portugal na nobre história dos Exercícios da série Schinderhannes.
(1985) Na BETP foi realizado o 1º curso de Saltadores Operacionais a Grande Altitude, ministrado de forma experimental. Os respetivos Saltos de Abertura Manual, na modalidade assistida em voo/AFF (1 aluno/1 instrutor), foram para a ZL do Arripiado, sendo instrutor o Tenente Lousada com apoio, na fase AFF, do Tenente Merino e aluno o Tenente Camacho Soares. Os restantes instruendos do Curso, por já anteriormente saltarem em queda livre, não necessitaram da referida modalidade assistida. Já nos finais da década de 80, como resultado do estudo constante da melhoria da queda livre militar, os cursos SOGA passaram todos a ser ministrados na modalidade assistida (AFF), bem como criados o Curso de Chefe de Salto de Abertura Manual para SOGAS e de Instrutores de Queda Livre Operacional. Com estes desenvolvimentos, dominando totalmente a técnica de infiltração em paraquedas em altitudes não fisiológicas (que exigem que os paraquedistas operem com sistemas de suprimento de oxigénio), atingiu-se o estado da arte no planeamento e execução de saltos operacionais a essas altitudes.
Os referidos saltos operacionais poderão ser realizados seja nas modalidades de HALO (saída do avião em alta altitude e abertura do paraquedas a baixa altitude), ou na modalidade HAHO (saída a alta altitude e abertura a alta altitude, voando em calote para grandes distâncias), utilizando em voo aparelhos de visão noturna, se necessário, para zonas de aterragem não sinalizadas, e com integração ou não de pessoal em Tandem (paraquedas bilugar Depois, mas ainda neste ano, a partir de um C-130 da RAF, voando a 25.000ft (cerca de 6.000m) acima da ZL de Chança, uma altitude não fisiológica que exige o uso de equipamento para respiração assistida, foi realizado o 1º salto nessas condições pelos SOGAS/GOAT, em conjunto com os alunos do Reino Unido do respetivo curso de SOGA, da N 1/PTS/Brize Norton/UK.
Documentos fundamentais
- Calheiros, José Alberto de Moura. 2021, “História do Regimento de Caçadores Pára-quedistas”. Vila Nova da Barquinha: União dos Paraquedistas Portugueses (No prelo).
- Grão, Luís António Martinho. 1987. “História do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas”. Lisboa: Comando das Tropas Aerotransportadas.
- Grão, Luís António Martinho. 1987. “História do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas 12”. Lisboa: Corpo de Tropas Pára-quedistas.
- Lousada, José Manuel Garcia Ramos. 2011“História do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas 21”. Tancos: Escola de Tropas Pára-quedistas.
- Martins, Raúl Francóis Ribeiro Carneiro. 1986. “História do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas 31”. Lisboa: Corpo de Tropas Pára-quedistas.
- Pires, Orlando Caetano Rodrigues. 1993. “História do Batalhão de Caçadores Pára-quedistas 32”. Lisboa: Corpo de Tropas Pára-quedistas.
- Escola de Tropas Pára-quedistas. 2008. “50 Anos - 1956-2006. Carregueira / Ribatejo: Tipografia e Papelaria Marques.
- O. S. (Ordens de Serviço) do Batalhão de Caçadores Paraquedistas (Tancos, 1956 a 1961)
- O.S. do Regimento de Caçadores Paraquedistas (Tancos, 1961 a 1975).
- O.S. do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 21 (Luanda/Angola, 1961 a 1975)
- O.S. do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 31 (Beira/Moçambique, 1961 a 1975)
- O.S. do Batalhão de Tropas Paraquedistas 12 (Bissau/Guiné, 1966 a 1974)
- O.S. do Batalhão de Tropas Paraquedistas 32 (Nacala/Moçambique, (1966 a 1974)
- O.S. do Destacamento de Tropas Paraquedistas 1 (Díli/Ataúro/Timor, 1975)
- O.S. do Corpo de Tropas Paraquedistas (Monsanto/Lisboa, 1975 a 1994)
- O.S. da Base Escola de Tropas Paraquedistas (Tancos, 1975 a 1994)
- O.S. da Base Operacional de Tropas Paraquedistas 1 (Monsanto/Lisboa, 1975 a 1991)
- O.S. da Base Operacional de Tropas Paraquedistas 2 (S. Jacinto/Aveiro, 1975 a 1994)
- O.S. do Comando das Tropas Aerotransportadas/Brigada Aerotransportada Independente (Tancos, 1994 a 2006)
- O.S. da Escola de Tropas Aerotransportadas (Tancos, 1994 a 2008)
- O.S. da Área Militar de S: Jacinto (S: Jacinto/Aveiro, 1994 a 2006)
- O.S. do Regimento de Infantaria 15 (Tomar, 1998 a …)
- O.S. da Escola de Tropas Paraquedistas (Tancos, 2008 a 2015)
- O.S. da Brigada de Reação Rápida (Tancos, 2006 a …)
- O.S. do Regimento de Infantaria 10 (S. Jacinto/Aveiro, (2006 a …)
- O.S. do Regimento de Paraquedistas (Tancos, 2015 a …)
- Relatórios de Operações do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 21 (Luanda/Angola, 1961 a 1975)
- Relatórios de Operações do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 31 (Beira/Moçambique,1961 a 1975)
- Relatórios de Operações do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 12 (Bissau/Guiné, 1966 a 1974)
- Relatórios de Operações do Batalhão de Caçadores Paraquedistas 32 (Nacala/Moçambique, 1966 a 1974)
Revistas e jornais militares
- “Kit Bag”, Jornal do BCP 31 (Beira), Jul1971
- “Salta”, Jornal do BCP (Tancos), 28 números, de 1956 a 1958
- “Revista Boina Verde”, BCP 21(Luanda, 113 números, de Ago1965 a 1974)
- “Revista Boina Verde”, RCP/CTP/RParas, do número 119, em Jun75, até ao 258, no 2º semestre 2020.
Livros
- Anacleto-Santos, M., Perestrelo, C., Santos-Correia, J., 2015. “Ao Ritmo do Guia. Memórias de um Curso de Paraquedismo Militar”, Tancos: Pára-Clube Nacional Os Boinas Verdes.
- Barbosa, José da Fonseca. 2018. “Oficiais Milicianos Pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa. Vol I os que combateram em África 1955 a 1974”. Porto: Fronteira do Caos Edit. - . 2019. “Oficiais Milicianos Pára-quedistas da Força Aérea Portuguesa. Vol II As Gerações do pós-Império 1975 a 1993”. Lisboa: Manuel Barbosa e Filhos Lda.
- Calheiros, José de Moura. 2010. “A Última Missão”. Porto: Caminhos Romanos. - Cann, John P. 2017. “Os Páras em África (1961 - 1974)”. Cascais: Tribuna da História,
- Chaves, Maximino Cardoso. 2005. “Andanças, Tribulações e Reflexões em Tempo de Guerra”. Coimbra: Edições Minerva.
- Henriques-Mateus, Lourenço Henrique. “1 - Portugal na Aventura de Voar. De Gusmão ao Ocaso dos Balões Esféricos (1709- 1915)”, Printer Portuguesa, junho. 2009, pág. 115-124.
- Machado, M., Carmo, A. 2003. “Tropas Para-quedistas. A História dos Boinas Verdes Portugueses 1955-2003”. Lisboa: Prefácio Editores.
- Mensurado, Joaquim Manuel Trigo Mira. 2002. “Os Páras na Guerra 1961-63 e 1968-72”. Lisboa: Prefácio Ed.
- Mira-Vaz, Nuno. 2019. “Os Pára-quedistas nas Guerras de África 1961-1975”. Lisboa: Sociedade Histórica da Independência de Portugal/Instituto Bartolomeu de Gusmão. - . 2019. “Pára-quedistas em Combate 1961-1975”. Porto: Fronteira do Caos Edit. - Mansilha, J., Mensurado, J., Calheiros, J. et al. 2007. “A Geração do Fim. Infantaria 1954-2004”. Lisboa: Prefácio.
- Moutinho, Carlos Bragança. 1970. “História e Técnicas do Para-quedismo”. Lisboa: Livraria Portugal.
- Serra, Rosa Glória et al. 2014. “Nós, Enfermeiras Paraquedistas”. Porto: Fronteira do Caos Edit.